terça-feira, 12 de abril de 2016

Análise da obra “Teoria Geral do Esquecimento”. Por Luís Barros Pereira (11.º CT5)




A “Teoria Geral do Esquecimento”, de José Eduardo Agualusa, começa nas vésperas da independência de Angola, em 1975, e conta a história de Ludovica, Ludo, uma portuguesa exilada em Angola, que, alarmada pelos acontecimentos, se empareda no seu apartamento, onde permanece isolada cerca de 30 anos. 
Enquanto emparedada, Ludo assiste à guerra civil com cada vez menos consciência do que se passa lá fora: as pilhas do seu rádio acabam e ela tem de fazer o seu próprio juízo dos incidentes que vê na rua.
Da vista altaneira do apartamento, ela observa “boa parte da cidade”, pesca galinhas do andar inferior, cultiva legumes e frutas no terraço.
“Às vezes, vejo um macaco passeando-se pelos ramos, lá no fundo, por entre a sombra e os pássaros. (...) Dei-lhe um nome: Che Guevara, porque tem um olhar um pouco trocista, rebelde, uma altivez de rei que perdeu o reino e a coroa.”
Os acontecimentos, aparentemente desgarrados, que testemunha do alto da sua varanda são magistralmente entretecidos, pelo escritor, na teia de acontecimentos dramáticos ou pitorescos que foram a vida de Angola pós-independência. 
Aparentemente, há aqui um simbolismo, o descomprometimento de Portugal na conturbada fase pós-independência de Angola. 
Mas também o ponto de vista de uma mulher estrangeira: o que seria expectável por aqueles que à sua frente travam uma batalha de vida ou de morte por ideais, quando à distância parecem meninos parvos matando-se uns aos outros. 
Ou, vendo o romance de uma perspetiva histórica: sugere-se a capacidade de Angola para reinventar a sua história, que é um tema recorrente na obra de Agualusa; as pessoas são consideradas, num momento, heróis, no seguinte, vilões. E, para o ilustrar, entra em cena o elenco de apoio – as pessoas que Ludo vislumbra do seu terraço – que experienciam reversões de fortuna ou procuram o “esquecimento” a que alude o título.
“Um homem com uma boa história é quase um rei”; esta frase conclui um capítulo onde o escritor faz uma reflexão sobre como os angolanos reescrevem o passado, mas também o quanto eles adoram contar histórias. E Agualusa conta aqui uma boa história: os 37 capítulos trabalhados autonomamente e entrelaçados magistralmente juntam-se no final. 
A sua narrativa é, às vezes, intencionalmente florida e exuberante, com títulos de capítulos como “Onde se esclarece um desaparecimento (quase dois), ou de como citando Marx: tudo o que é sólido se desmancha no ar”.
Por vezes, usa uma prosa poética, como acontece com a escrita atribuída a Ludo, registada nas paredes do apartamento: “Dou-me conta de que transformei o apartamento inteiro num imenso livro. Depois de queimar a biblioteca, depois de eu morrer, ficará só a minha voz. Nesa casa, todas as paredes têm a minha boca.”.
“Deus pesa as almas numa balança. Num dos pratos fica a alma, no outro as lágrimas dos que a choraram. Se ninguém a chorou, a alma desce para o inferno. Se as lágrimas forem suficientes, e suficientemente sentidas, ascende para o céu. Ludo acreditava nisto. Ou gostaria de acreditar. Foi o que disse a Sabalu: vão para o Paraíso as pessoas de quem os outros sentem a falta. O Paraíso é o espaço que ocupamos no coração dos outros.”
E, por fim, termina num aparente simbolismo cíclico, com o capítulo “É nos sonhos que tudo começa”.
“Nasceu o dia, Ludo, vamos. E avançaram ambos em direção à luz, rindo e conversando, como quem entra num barco.”
                Luís Barros Pereira, 11º CT 5

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