domingo, 11 de janeiro de 2015

O meu livro. Por Susana Lopes,12.º CT1




   O livro de que vou falar chama-se “A desumanização” e é de Valter Hugo Mãe.
   Valter Hugo Mãe é um autor angolano que para além de romancista escreve também poesia, sendo que toda a sua poesia se encontra reunida em "contabilidade" (poesia recolhida 1996-2010, Alfaguara, 2010), escreve também crónicas e livros infanto-juvenis. É também o vocalista de uma banda designada de “ Governo”.
 Este livro desde que o tive suscitou-me interesse. O desenho da capa que se apresenta como um paradoxo com o título à primeira vista, porque não se espera que a desumanização seja colorida... no entanto, no final da leitura fiz uma interpretação diferente desta imagem e dos desenhos das páginas seguintes. 
  Esta narrativa é feita pela também personagem principal, Halldora, que perde a irmã gémea (que é assim a criança plantada), e fala das sobras, das dores e terrores que ficam quando a morte passa por nós.
   A questão da morte é muito abordada, nunca tinha lido um livro que a abordasse desta forma tão fria e dura. Mas a escrita, a narrativa, é mesmo assim gelada, triste, mas deslumbrante e bela. A forma de escrita demasiado complexa para uma mera criança, porque esta já não o é. Quando alguém que nos é próximo morre, morre também uma parte de nós, a morte dos outros mata-nos mais profundamente do que a morte para a qual caminhos paulatinamente. E quando a morte nos tira o nosso espelho, um irmão gémeo que é como uma metade daquilo que somos, a situação é ainda mais trágica. E, inicialmente, Halla queria ser como uma criança bonsae que se apara, queria apenas permanecer igual a Sigridur...mas percebeu que ambas mudavam.
   Para além da plantação da Sigridur, Halla também tem de enfrentar a mãe devastada que olha para ela como a sobra e assim usa a dor nela própria cortando-se e na filha de formas bizarras como forma de purgação. O livro diz que “Quem sepulta um filho não tem idade. Está para lá das idades, para lá dos tempos.” E a sua mãe está realmente perdida no tempo, na realidade/irrealidade... É logo nas primeiras páginas que nos damos conta de uma mãe perturbada, em contraste com um pai que surge como salvação nos seus poemas...para o seu pai bastava o pronunciar de uma palavra para que ela ali existisse. 
   A temática do amor também está presente no amor pelos filhos que por vezes surge como ódio, já que a linha que separa ambos é tão ténue e essa tenuidade é evidente na relação entre Halla e mãe e entre Halla e Einar.
   A Islândia que surge quase como comedora da felicidade como desumanizadora. Para Halla a Islândia é Deus e nos fiordes, na sua altitude encontra-se a boca de deus, a boca do desconhecido que simboliza o fim mas o infinito ao mesmo tempo: “Eu sabia bem que a morte também tinha cutelos, e que os mortos se matavam uma e outra vez, talvez para acederem a um contínuo de dimensões infinitas”. A boca de deus que é tão profunda e obscura como esta escrita. 
   A simbologia, as metáforas, as imagens que as palavras nos pintam ao ler este livro fazem-no valer a pena. A junção do grotesco com o belo que é explicado então nestas imagens que a meu ver representam as irmãs mortas, uma como a criança plantada, com raízes, ambas abstratas, diferentes (depois do enterro) mas semelhantes, de mãos dadas e coloridas porque afinal, mesmo que a tendencia seja para esquecer esse facto, são apenas crianças... Este é mesmo como diz na contracapa um livro de ver. Onde é preciso desumanizar-nos para captarmos a beleza intrínseca a tanta dor. É um livro fascinante e que nos faz questionar sobre diversas temáticas morais, filosóficas... É uma fantasia tão realista que não nos deixa indiferentes. Quando acabamos de o ler sentimos que falta algo mais, mas na vida falta sempre qualquer coisa, quanto mais não seja o que a morte leva, deixando apenas a desorganização que demora, podendo nunca se reorganizar. 
   Aconselho a sua leitura, mas apenas quando na disposição certa de ler. Precisamos de nos desumanizar um pouco e ser capazes de nos deixar mergulhar completamente nesta leitura para absorver dela o máximo que este livro nos pode oferecer. 

                                 Susana Lopes, 12.º CT1

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